28 de outubro de 2004

A VILA

Ia preparado para um filme de terror. Os bosques lá estavam, a lembrar o... (BRANCA) feito sem dinheiro e onde o medo nunca é mostrado. (LEMBRANÇA: o "Blair Witch"!). Para quem tinha ficado desiludido com "Sinais", este filme foi uma boa surpresa. Uma câmara magistral, sobre uma história que nos vai surpreendendo. Aqui e ali, teríamos dispensado tanta informação, mas quando se reflecte melhor, estava-se era a falar de outra coisa ainda. Imperdível.
BACK!
:)
... olha e que se lixem os que constroem pirâmides de lixo e confundem o zunir das moscas em volta da cara com Mozart!
Será deles o reino dos Infernos. Entregue ao domícilio e de forma prematura.

20 de outubro de 2004

OBRIGADO
a todos os que se me têm dirigido para enviar um abraço solidário, via comentários, e-mails ou telefone.
O assunto seria ridículo se não denunciasse que muitos de nós que escrevemos, filmamos ou simplesment expressamos a nossa opinião sobre Portugal, dormimos algures, num computador do SIS. Pior: que existem pessoas no nosso país, repito, no NOSSO, o de todos, aquele que amamos apesar de tudo, que andam pelas livrarias a ver o que se escreve e a elaborar relatórios sobre a perniciosidade de alguns textos. Em 2004. Isso é que assusta e entristece. Que classifiquem como autor a "isolar" o homem que escreveu A MONTANHA MÁGICA é de brutos; de ignorância alimar. E quem são estes homens e mulheres que se escondem para nos espreitar? Quem os controla? Quem destrinça entre o que é opinião pessoal ou gosto da informação útil? Quem nos assegura que eles não forjam informações? Quem está a salvo deles?
Que governo é este que alimenta esta gente e se compraz na leitura de INDEXS inquisitoriais? Até quando poderemos achar que as coisas não vão voltar à podridão de um regime salazarento?

Se isto fosse um romance anterior ao século XX eu poderia fazer uma interpelação ao leitor:
"Tu, que me lês, julgas-te a salvo da lama que cai? Não o estejas, que a lama tem muitas cores e salpica quem pode, pois é essa a sua condição de lama...".


19 de outubro de 2004

O REGRESSO DA PIDE

Estou a avisar há uma série de tempo que este início de século, em Portugal, será uma época de barbárie onde os valores mais retrógrados e confundidos irão causar dano...
Eis a prova:

Telefonam-me do "CRIME", para me interrogarem a propósito de um relatório que o SIS (Sistema de Informações e Segurança) lhes teria fornecido (vendido?) em que uma das minhas obras era referida. Aparentemente, sou citado, ao lado de Thomas Mann e de André Gide, como um dos escritores que escreveram livros que "apresentam a pedofilia a uma luz favorável". O livro em questão é A Materna Doçura. O meu primeiro romance entra assim para o Index 5 anos após a sua publicação (o que só abona a favor da penetração da Oficina do Livro entre os meios... por assim dizer, policiais...).
E aqui estou eu, que nunca lidei de perto com a PIDE e não percebo nada de estar fichado por ter escrito um livro obviamente não lido, chocado...
Ainda mais com pasquins a farejar sangue (ainda que inexistente...), sempre atentos na produção de lama.
Quem nos protege disto?

O Sântano é ainda mais triste do que eu pensava...

ps: se não fosse desolador ver que o dinheiro dos nossos impostos vai para os ordenados de pessoas que perdem tempo a ver em livros "matérias proibidas", em vez de andarem atrás dos gangs de criminosos que matam e lesam economicamente o país, seria risível. Assim, nem por isso.


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Para os apreciadores do género, já começam a circular pela net as pré-imagens da ida ao campeonato mundial de Quiditch. Nos nosso cinemas só daqui a um ano. ;)
FESTA DO CINEMA FRANCÊS

Correu bem. Muitas sessões de casa cheia (lembro que tem mais de 800 lugares, a sala 1 do S. Jorge). Alguma descoordenação com as sessões paralelas (lembro o caso da apresentação quase à mesma hora de outros filmes do autor que estava a ser mostrado na sala principal. Das duas uma, ou se optava por ir ver um filme antigo ou, gostanto do filme recente perdia-se o ver ou rever de outros feitos anteriormente).

LES CHORISTES foi uma boa surpresa. Um filme de grande público que conseguiu fazer passar a emoção a uma audiência muito heterogénia.

O filme de Agnès Jaoui realizadora de O GOSTO DOS OUTROS volta a ganhar com COMME UNE IMAGE, uma comédia sobre um escritor egocêntrico (uma redundância, eu sei...).

François Ozon, que tem uma filmografia formidável desilude em toda a linha, com o sue 5 X 2, uma espécie de MEMENTO sentimental, com a montagem de trás para frente. A ideia não é má e as cenas são bem filmadas e interpretadas, claro. Mas chega-se ao final e apetece-nos citar o título infantil: "Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma".

Para o ano há mais, se o S. Jorge existir como cinema. Se esta câmara e as suas ideias pós-modernas fora de tempo não se lembrarem de o transformar numa coisa irreconhecível e musical...

18 de outubro de 2004

MAU TEMPO NO CANAL

Chove. Por todo o lado.
... Mas, olhando bem, ainda estou razoavelmente enxuto.
Vamos lá, então, receber a semana!

16 de outubro de 2004

FIM DA SEMANA ANTES DA SEMANA

Peço desculpa de não escrever hoje a comentar santanices, marcelices, injustiças, gozações com o contribuinte...
É que estou ocupado a regar o amor filial.
:)

14 de outubro de 2004

AINDA A RELIGIÃO...

Não há nada como as fontes. Quando se lê directamente (sem intermediários, portanto) um texto, quase sempre chegamos à conclusão de que este foi sujeito a toda a espécie de adulterações. É uma coisa humana, a distorção do boca-a-boca, a intrusão daquilo que nós somos e do que queremos dizer durante o processo de transmissão de uma mensagem. Aprende-se no 5º ano, nas Funções da Linguagem. Mas a gente esquece, mal se começa a crescer.
Com as religiões aconteceu o mesmo.
Por gosto e atracção pela poesia da linguagem, mergulho de vez em quando nos livros sagrados das várias religiões. Leio na origem os versículos que levam a que homens se imolem pelo fogo e outros se assassinem nas ruas do mundo. E chego sempre a conclusões interessantes.
Primeiro, os livros ou as partes constitutivas do registo que sustentam cada uma das principais religiões foram sendo escritos ao longo do tempo. Num caso específico, ditado por alguém que afirmou tê-lo ouvio de Deus a outros que guardaram na memória e que por sua vez transmitiram a outros que o foram registado onde puderam: ossos de camelo, pedras etc... Noutro, o processo há-de ter sido semelhante: gente inspirada pelo céu e sem testemunhas chega com um relato que é registado de forma dispersa ao longo do tempo. Mais tarde, esses e outros manuscritos são misteriosamente encontrados, seleccionados (isto é, guardaram-se os que interessavam e afastaram-se os que contrariavam as crenças da época) e divulgados.
Ler as fontes e olhar para a forma como o manuseamento dessa informação tem sido manipulado desde há muito faz com que eu tenha a certeza de que não vivemos nos tempos de ciência e liberdade que se propagandeia. Quando muito, numa Idade Média limpinha.

ps:
As traduções que nos chegam são feitas por pessoas que acreditam. Em muitos casos por poetas conhecidos. E são escritas (no caso português) com uma beleza que contraria em muito a rudeza dos castigos anunciados. E que por mais não fosse, só isso valeria a viagem ao papel fininho.

13 de outubro de 2004

OUVI...

"...Marrocos, este fatídico acidente. A viagem, organizada pela PT, para os seus melhores clientes, entre os quais o presidente da câmara de Lisboa, gerentes bancários..."

Como?! Sou só eu que acho ligeiramente estranho o presidente da CML andar em passeios pagos por uma empresa de telecomunicações que certamente participará de concursos públicos, et., etc...?
Espera... Só se ouvi mal e a notícia se referia a um laboratório farmcêutico e a médicos do Serviço Nacional de Saúde.... Ai sim, seria normal...!

Começou hoje o julgamente de um pai e da mulher que terão maltratado uma criança até à morte. Vai daí lembrei-me de outra frase ouvida sobre o caso miúda assassinada (presumivelmente) no Algarve:
"o tio confessou ter apenas participado no espancamento".
No "espancamento"? "participado", isto é, era mais do que um adulto a bater numa menina de 8 anos?
Deve ser o que as piedosas tias do PP referem como a "supremacia dos valores familiares"...
"Nojo", é a única palavra que me vem aos lábios.

F....

Como é que é possível apelar-se à racionalidade, à visão clara das nossas potencialidades e fraquezas, num país que acredita sinceramente que a imagem de uma mulher morta há mais de 2000 anos, a milhares de quilómetros daqui, apareceu em 1917 empoleirada numa oliveira...?!
Só de pensar que estou vivo numa época que pensa assim começo logo a ver o sol a rodar...
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12 de outubro de 2004

A ESCRITA ALIMENTAR
Não é que não se possa fazer poesia enquanto se põe o pão na mesa... O que não se consegue é ouvir os sons da seara com o barulho do estômago a roncar.

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11 de outubro de 2004

FILMES DE LÁ E DE CÁ

Pura distracção: esqueci-me de comprar o bilhete para a antestreia do filme baseado na obra do Bilal "Os Imortais" (eu sei, eu sei, existe um outro) e não apanhei lugar. A sessão esgotou. Os 800 lugares. Ainda bem que o público aderiu em massa.
Vai daí, meti-me no metro e fui até ao Colombo ver o trash movie "Balas e bolinhos". A única crítica que tinha visto fora de alguém que se está virado para dizer bem, diz, se acorda com os pés ao contrário diz mal. O que nada ajudava.
Primeiro: o realizador tem "mão". Não só escolhe os enquadramentos justos, como a sucessão de planos é ainda mais justa. Consegue um filme cheio de ritmo, apenas com um fiozinho de história. O que é obra. Tem 2 planos de grua (quem é que lhe terá emprestado o aparelho... ;) ) absolutamente impecáveis. Aliás, não me lembro de ter alguma vez visto igual num filme português.
A imagem vídeo aguenta-se bem e o som era bom, na sua generalidade.
O público riu do princípio ao fim e nem a brevíssima aparição amacacada do Fernando Rocha conseguiu sujar demasiado a coisa.
É claro que não tem um argumento a sério. Mas até aí está igual a 90% do cinema nacional. Só que sem pretensões. Falha pela inexistência de diálogos escritos e pensados (evitava o falajar penoso do actor principal, uma das grandes fraquezas. Vê-se que está cheio de boa vontade e energia, mas a coisa não vai lá).
Foi divertido, e correu lindamente na sua hora e quarenta e oito minutos. Quantos filmes pagos com os nossos impostos se podem gabar disto? Quase nenhum.
Só por cegueira não se verá a bondade da exibição deste filme. E só por hipocrisia não se perceberá que o caminho da produção portuguesa passa por este arriscar em trabalhos longos e sem meios, mas que chegam ao fim e agradam a algumas pessoas.
Os mais corajosos que vão ver e voltem para contar.

9 de outubro de 2004

LIVROS

Já estou há algum tempo para referir uma das minhas últimas leituras, CARTER VENCE O DIABO (asa) o primeiro romance de Glen David Gold. Mais de 600 páginas bem escritas a remeterem para o mundo dos ilusionistas. Para quem tomou contacto com o trabalho de Houdini e de tantos criadores de ilusões do início do século XX é um livro fascinante. Porque fiel ao espírito que movia esses homens.
Não é um livro para Nobel, mas pode encher muitos fins de noite daquele prazer antigo de sermos acompanhados por uma boa história.
E o site é igualmente divertido.

FESTA DO CINEMA FRANCÊS

Sem as enchentes ou a animação do ainda fresco "Indie", a Festa tem uma selecção variada e curiosa de filmes. Hoje, passou WILDE SIDE (2004-Drama), de Sébastien Lifshitz. Um filme interessante, filmado sem grandes pruridos e com uma autenticidade no trabalho com os actores tocante.
O programa está disponível em vários locais da net, nomeadamente aqui.

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DANTES, USAVA-SE
a vergonha na cara.
Os "trabalhadores" da Caixa Geral de Depósitos marcaram uma greve para o dia 29 de Outubro. Tomado por um palpite fui verificar o calendário: 29 é a sexta-feira que antecede o feriado de 1 de novembro. Sexta, sábado, domingo e segunda de férias.
Um dia, a sem vergonhice desta ala da função pública criada na babugem do Verão Quente, terá de acabar. Os milhares de malandros que entopem as empresas públicas e os sindicatos terão um dia de perceber o significado das palavras "brio", "honestidade" e "produtividade". Ou dar lugar aos que estiverem dispostos a cumprir as suas obrigações.
Por enquanto não passam de um bando de aproveitadores dos nossos impostos.

7 de outubro de 2004

Marcelo

já se escreveu tanto sobre um assunto cujo principal visado permaneceu em silêncio que qualquer opinião será provavelmente errónea.
Diria apenas que Marcelo R. Sousa tem tido um papel muito válido no "assentar da poeira" das questões nacionais. Se lhe dermos o desconto das opções ideológicas mais imediatas, digamos assim, ficamos com um comentador sensato apostado, quase sempre, em gerar consensos; mais virado para a dinamização das energias nacionais do que para a má língua. Com alguns deslizes que só lhe ficam bem, porque o aproximam dos menos hábeis a distinguir o trigo do joio.
O secretário de estado (era um ministro?) terá cometido a gaffe... Olha a novidade! Como se alguém esperasse deste executivo (que, malgré tout, tem algumas pessoas com valor - uma, ou duas) alguma coisa proveitosa.
Santana Lopes afundar-se-á por si próprio, apenas porque é de papel. E, qualquer miúdo lhe poderia dizer que os barquinhos de papel amolecem e desfazem-se ao fim de algum tempo.
Se até a saída de um comentador de uma estação de televisão é capaz de mexer com eles...

5 de outubro de 2004

LA CONFIANCE

pedem-me que confie. em deus. na existência do céu. na bondade da obediência às leis. na justiça e nos seus defensores. no inevitável crescimento económico. que o crescimento económico de uns trará a riqueza de todos. que o amor eterno. que a amizade eterna. existem. que me deixe levar para o bem de todos. que dê a outra face. sempre a outra face. e se for possível, o cu. e o cérebro. e tudo o que eu souber e seja útil a alguém que não a mim.
pedem-me que seja sempre bom, num mundo em colapso. que me cale se não quiser criar inimigos. que minta se quiser fomentar amizades. preciosas para a obtenção das riquezas temporais.
pedem-me que compreenda que nada é verdadeiro. que a aceitação dessa ideia é um velho pacto entre os homens e a felicidade terrena.
pedem-me tudo isto. e eu cedo. todos os dias me esforço por ceder. mesmo se há dias em que não consigo deixar de sentir, sob os pés descalços, as pedras do chão de terra.


4 de outubro de 2004

NO BUDGETS

Defendo há vários anos a necessidade da produção independente de filmes. Quando eu digo "independente", quero dizer Low budget ou até mesmo NO budgets filmes. Com o aperfeiçoamento do vídeo digital (chamo a atenção dos mais ambiciosos para a chegada do novo modelo da Sony - como não me pagam para isto, imagino que outras marcas também lancem modelos - de Alta-Definição (HD) em tamanho compacto) e com a vulgarização da edição de filmes em computadores a 7a arte ficou de facto... ao alcance dos artistas. Não só dos pseudo,como até dos verdadeiros. Aqueles de quem desconhecemos o nome. Por agora.
O subsídio de filmes criou em Portugal não só resmas de bluffs a quem chamamos "cineastas", como tem alimentado alguns (muito poucos) tubarões. Gente interessada em que nada mude enquanto os ventos lhe soprarem de feição. Tudo lhes serve: amigos colocados nos júris dos concursos, jornalistas que escrevam em diários, controlo de salas de exibição, etc, etc.
Para romper este ciclo só há uma possibilidade honesta: fazer a custo zero. Unir esforços de actores, realizadores, pós-produtores. Criar mecanismos de distribuição e exibição alternativos.
E assim, trazer ao de cima um cinema que tem sido esmagado e menosprezado por toda uma (com resquícios na actual) geração de agentes cinematográficos.
Ia falar da produção de Balas e Bolinhos, em exibição em pelo menos 2 cinemas e feito com o esforço e entusiasmo de uma equipa do norte. Tem o Fernando Rocha no elenco, o que vai retardar a minha ida à sala. Mas quando vir, logo direi o que me pareceu. Uma coisa será certa, pior do tanta e tanta coisa a 130.000 contos, cada, que temos visto nos últimos anos, não será...
Não há nada para lá da Coragem.

3 de outubro de 2004

INDIE- encerramento

Ora aí está a prova de que me enganei ( e o Eurico de Barros também) redondamente com o filme português em baixo referido. Um júri constituído por um crítico do Público e dois jornalistas franceses, resolveu dar o Prémio da Crítica ao ex-crítico do Público, Miguel Gomes. Surpreendente para alguns, atendendo às timidas vaias que se fizeram ouvir na sala (eram mais as pessoas que batiam com a mão na testa e exclamavam "Eu não acredito"). Enfim. Cada país tem a cara que merece.

Os restantes prémios foram: Melhor Filme Português, para LISBOETAS, de Sérgio Trefaut; Melhor Fotografia, Rui Poças; melhor curta-metragem, CON QUE LA LAVARÉ (animação) e o Grande Prémio foi para LE MONDE VIVANT (que ainda não vi).

NOITE ESCURA não ganhou coisa nenhuma, helàs, mas ainda lhe resta o Festival de Cinema de Portel que começa agora.

Os directores estavam contentes com a adesão em massa do público, apesar do desconforto do ar condicionado (que a benzoca da Egeac procurou desvalorizar - não sei a quantas sessões assistiu, mas com tanta descontração não devem ter sido muitas - remetendo para o passado, a responsabilidade da coisa). Deram-se mesmo ao luxo de anunciar o Número Real de espectadores (esta sinceridade, só por si, já os torna num caso raro, no reino dos dados inflaccionados...), até ontem, mais de 11.000 pessoas. O que para uma primeira edição de um festival ligeiramente apoiado pelo Icam, foi extraordinário.

E pronto, quem quiser pode assistir amanhã aos filmes premiados.
Para o ano há mais. Duvido é que seja no S. Jorge, pelo relax da criaturinha ao declarar que a sala "não serviria só para cinema", e que ia para obras.
Se fosse pessimista diria que lá vem o rockódromo, disfarçado de coisa inteligente.

2 de outubro de 2004

INDIE - último dia
Por razões várias (da família do Pão na Mesa), não pude assistir aos filmes dos últimos dias.
Um dos que não iria ver, de qualquer maneira, seria a - por assim dizer - longa-metragem de Miguel Gomes. Tal como muito gente, simpatizei com o seu primeiro filme, até dar de caras com o original de François Ozon e ter preferido este último. Eurico de Barros, contudo, assistiu:
"No entanto, não é correcto chamar longa-metragem a A Cara Que Mereces, porque se trata mais de uma desconcertante experiência cinematográfica, do que outra coisa - um híbrido de curta inacabada e de fita de amigos, nos limites da auto-indulgência e cifrada pelo realizador para que ninguém tenha a menor ideia do que está a ver. Para saber sobre que é este filme, o espectador terá de ouvir ou ler a explicação do realizador. E não há nada pior do que um filme que não se sabe contar a si mesmo e precisa que o seu autor o decifre..." (DN). Não perdi nada, portanto.

Hoje é a sessão de encerramento (por convite, helàs) com o documentário Super Size Me". Uma incursão ao mundo da junk food e aos deliciosos efeitos sobre as nossas anatomia e saúde.

O balanço ficará para amanhã, depois de sabidos os prémios.
JOBS FOR THE POORS

Folheio o jornal e dou de caras com anúncios de câmaras municipais, escolas e institutos a pedir gente. Auxiliares. Ordenados na casa dos 400/500 euros mês. Seria curioso pensar como é que se vive num dos países com o custo de vida mais elevado da Europa com esse dinheiro.
Isto lembra-me que uma amiga não se pode reunir comigo na próxima semana (desenvolvemos um projecto complicado no domínio das novas tecnologias e do vídeo) porque lhe apareceu um trabalho de alguns dias como Assistente de Guarda-Roupa. Anos a estudar cinema no estrangeiro para ganhar a vida a passar vestidos a parvas que mal sabem ler ou escrever (e que gostam desse estado) mas que ganham milhares de contos por mês. Alguém tem uma ideia de quanto ganha a Merche Romero? Ou aquele apresentador/actor dos Ídolos? Eu tenho. Mais de um mira-amaral por mês. A minha amiga está contente porque vai ter dinheiro para pagar a renda, este mês. Tal como a amiga que lhe arranjou o biscate, arquitecta no desemprego e que também andará a apertar os fechos às coristas.
Alguém se admira dos miúdos se espremerem em filas de quilómetros para fingirem que sabem cantar e atingir o "sucesso"? Eu, não. Já não.
As alternativas estreitam-se cada vez mais, no nosso país(inho) com gel.